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Aspectos Cognitivos no
Aprendizado de Design Universal


Resumo

Uma pesquisa realizada em ambiente acadêmico entre estudantes novatos de diferentes cursos de design revela que o entendimento sobre conceitos e aplicações relativas ao design universal pode ser maior e crescente caso os interessados fiquem expostos primeiramente à experiência vivencial dos problemas de mobilidade e, logo após, testem suas impressões com formulações conceituais e abstratas sobre o assunto. Quando expostos a situações similares na ordem inversa dessas experiências de exposição da informação, os estudantes evidentemente exibiram uma redução nos níveis de interpretação e de compreensão sobre o assunto.

Palavras chaves:
entendimento, design universal, problemas de mobilidade

Conteúdo

Dentre outros desafios para o aprendizado de Design Universal, é essencial estimular a percepção do impacto ambiental sobre os problemas de mobilidade, usabilidade e de orientação no espaço edificado de pessoas com habilidades comprometidas por uma deficiência permanente ou temporária. Como muitos estudantes/profissionais de design não estão conscientes de que vivenciam tais problemas relativos ao uso ambiental em seu cotidiano, pouco podem compreender seu papel em minimizar os efeitos de uma deficiência física, mental ou sensorial e de como isso pode atingir a todos reduzindo a qualidade de vida. 

Nesta abordagem, o enfoque é sobre o aprendizado de Design Universal uma vez que este conceito tem sido confundido em termos pragmáticos com a simples aplicação técnica de parâmetros ergonômicos da acessibilidade ambiental. 

O conceito de Design Universal não é recente. Foi desenvolvido ao final da década de 80 nos Estados Unidos pelo Center for Universal Design da North Carolina State University e adotado no Brasil a partir de 1991.  

Segundo R. Mace (1985), o Design Universal compreende a intervenção possível no espaço ambiental humano pelo respeito às diferenças das pessoas incluindo-se a variação de idades e habilidades. No Brasil, o conceito de Design Universal foi introduzido por M. Guimarães em 1991 diante do Prêmio Nacional de Design e Pesquisa para a Pessoa Portadora de Deficiência (Guimarães, Fundamentos do Barrier-free Design: IAB-MG). 

Desde então, o conceito foi compartilhado no Brasil em eventos de abrangência nacional com a sua  aplicação por outros especialistas como a V. Camisão, C. Duarte, R. Cohen e A. Prado até que foi oficializado pela Norma Brasileira NBR-9050/1995. Atualmente, tem sua aplicação assegurada pela legislação federal que exige a aplicação da versão atualizada desta norma (NBR 9050-2004) nos âmbitos municipal, estadual e federal. 

Uma pesquisa (Guimarães, 2005) com estudantes de primeiro ano dos cursos de design da North Carolina State University procurou evidenciar aspectos cognitivos que possam facilitar o aprendizado de Design Universal por meio de técnicas para visualização online de problemas de mobilidade e de orientação espacial e pela simulação da vivência desses problemas num percurso de visita a certo edifício. Uma versão em português identificaria este projeto principal de pesquisa como “O Estudo do Entendimento sobre Design Universal por meio de Recursos Visuais Online e Exercícios de Simulação de Comportamento.” De fato, tratou-se de uma pesquisa experimental (portanto, em ambientes controlados), que comparou respostas verbais de estudantes matriculados no primeiro ano de design durante três estágios da coleta de dados ao longo de simulações de problemas na mobilidade.  

As respostas foram registradas em estágios que envolveram medições de desempenho sobre entendimento por foto-questionários online e por questionários impressos após simulação de vivência dos problemas de mobilidade e de orientação espacial numa rota pré-estabelecida.

Conforme experimentos preliminares num programa de doutorado que se desenvolveu ao longo de quatro anos,  foi possível investigar sobre meios para o aprendizado sobre Design Universal. 

Incluem-se entre estes experimentos, os seguintes: 

  • a avaliação pós-ocupação de parques públicos, 
  • a elaboração de testes de usabilidade de websites educativos,
  • a realização de pesquisas com grupos focais sobre alternativas de design para configuração mínima de banheiros residenciais, 
  • a avaliação de aproveitamento de material educativo impresso pelo Center for Universal Design. 

A relevância de tal pesquisa tem direta relação com o ensino fundamental nas áreas de design como um todo. Essencialmente, trata-se de uma discussão filosófica sobre a eficácia das formas de ensino para um entendimento mais aprofundado, ora por recursos online de visualização de situações abstratas, ora por recursos de imersão vivencial por representação de situações concretas. 

A seguinte questão foi definida como central para a pesquisa: Qual o impacto de um foto-questionário online sobre o entendimento de conceitos básicos do Design Universal quando comparado com exercícios de simulação que enfocam mobilidade e orientação espacial para estudantes de primeiro ano no College of Design, North Carolina State University? 

O grupo de participantes que forneceram dados significativos compreendeu setenta e oito pessoas. Destas, quarenta e três formaram o grupo que foi ao laboratório de computação antes de saírem pela rota traçada externamente aos edificios simulando o uso de equipamentos auxiliares de mobilidade (cadeira de rodas, muletas, andadores) e de percepção visual (bengalas-guia, óculos-opacos). Trinta e cinco partipantes formaram o grupo que efetuou tais atividades em ordem inversa, efetuando simulações primeiro e depois indo ao laboratório de computação do College of Design – NCSU. A ordem de atividades permitiu que um dos grupos servisse de referência de controle sobre as atividades do outro grupo. 

No laboratório de computação, os participantes responderam às perguntas sobre o conteudo conceitual da experiência. Para isso, os participante se basearam no julgamento reflexivo sobre condições de uso ambiental indicado por foto-montagens digitais que representavam imagens comparativas entre problemas de mobilidade causados por barreiras arquitetônicas e imagens desses locais com alternativas de solução que se baseam nos princípios do design universal. Toda a qualidade da informação técnica estava restrita à leitura das imagens fotográficas. Contudo, cada resposta demandava certo nível de abstração em relação aos problemas apresentados

Influências externas relativas à programação das atividades e às expectativas dos estudantes frente ao comprometimento com atividades acadêmicas no semestre letivo alteraram sensivelmente o equilíbrio de número de participantes nos grupos de amostragem. Independente disso, o número de participantes em cada grupo foi significativo para análise estatísticas inclusive sobre a influência dos fatores externos no desempenho de cada grupo.

Além do número desigual de participantes em cada grupo, as características do perfil dessas pessoas em termos de campo de trabalho (estavam representadas cinco áreas de design), experiência pessoal direta ou por familiares sobre o impacto de problemas simulados, e concentração de estilos de aprendizagem foram fatores que promoveram interessantes resultados.

Como conclusão, a pesquisa evidenciou o seguinte:

  • Iniciativas para o aprendizado de conceitos básicos sobre o Design Universal podem ser mais eficazes se estudantes de vários estilos de aprendizado forem submetidos à combinação entre recursos visuais online e simulação vivencial de problemas de mobilidade e de orientação espacial, ao invés de efetuarem exercícios isolados numa dessas modalidades – assim, a complementação de recursos perceptivos e processuais da informação no transcorrer das atividades pode assegurar que um maior número de participantes atinjam níveis aproximados e elevados de entendimento;
  • Pessoas cujo estilo dominante de aprendizado é de percepção sensorial concreta e de processamento ativo da informação foram maioria no primeiro grupo e tiveram desempenho decrescente e irregular, enquanto pessoas cujo estilo dominante de aprendizado é de percepção sensorial abstrata e de processamento reflexivo da informação estiveram em núrmero balanceado no segundo grupo e demonstraram desempenho estável e progressivo.
  • Pessoas que possuiam previamente experiência direta pessoal ou indireta através dos problemas relativos à mobilidade ou orientação espacial de amigos e familiares foram maioria no primeiro grupo e tiveram um bom desempenho no entendimento de conceitos expressos de forma abstrata online mas perderam bastante devido a um conflito pessoal sobre interpretação e compreensão de conceitos a medida que vivenciaram por si mesmos a simulação de mobilidade reduzida e de orientação espacial comprometida;
  • Isso não ocorreu com as pessoas que não possuiam previa experiência direta pessoal ou indireta através dos problemas de amigos e familiares. Esses participantes tiveram participação equilibrada nos dois grupos e tiveram baixo desempenho no entendimento de conceitos expressos de forma abstrata online em relação às pessoas que possuiam experiência prévia, mas vivenciaram menos conflitos conceituais online após terem feito a simulação de mobilidade reduzida e de orientação espacial comprometida; ou seja, tiveram desempenho crescente e progressivo;

O baixo número de participantes na amostragem não permitiu que as conclusões acima pudessem ser generalizadas para a população de estudantes no College of Design. Contudo, o registro de influências externas negativas, a precisão do sistema criado para medir a interpretação e compreensão dos participantes, a confirmação sobre a importância de se identificar estilos de aprendizagem e a complementação de recursos didáticos disponíveis foram importantes contribuições da pesquisa.

Como recomendações, a pesquisa de doutorado sobre aspectos cognitivos para o aprendizado de design universal apresentou as seguintes considerações:

  • Deve-se efetuar o levantamento dos estilos de aprendizado para todas as turmas no primeiro ano de design de forma que as atividades letivas permitam aos estudantes o aprendizado de forma mais confortável e completa.
  • A introdução de conceitos relativos ao design universal poderá ser aplicada por meio de recursos online desde que associada a atividades letivas que propiciem a imersão kinestésica dos estudantes frente aos problemas relativos ao uso ambiental, no caso, relativos à mobilidade reduzida e à orientação espacial comprometida.
  • Os exercícios com recursos online e com a simulação de problemas de uso ambiental devem ser desenvolvidas de forma harmônica com as demais atividades letivas de modo que não afetem negativamente o entusiasmo dos estudantes e não comprometam seu tempo disponível frente às responsabilidades das demais disciplinas do curso de design.

Como perspectiva de avanços da estrutura teórica, esta pesquisa permitiu a inserção do tema sobre Design Universal em investigações compatíveis com os paradigmas educacionais do Construtivismo, do Cognitivismo e do Pragmatismo. Confirmou ainda os modelos conceituais relativos aos estilos de aprendizado, os modelos dos processos cognitivos que orientam a interpretação e compreensão como representações do entendimento, e os modelos multi-modais (visual e verbal) de representação da experiência com o uso de elementos do espaço ambiental. Trabalhos futuros deverão enfocar diferenças culturais entre estudantes brasileiros e americanos. Além disso, está previsto o aprimoramento técnico dos recursos de foto-questionários online para representação do uso ambiental em diferentes edifícios. Finalmente, experimentações-piloto deverão ser realizadas para incorporação de recursos online em disciplinas acadêmicas e em cursos de extensão de longa distância.

Bibliografia

Center for Universal Design, CUD (1993), “Sight, Sound and Motion,” project description and notes. College of Design, NCSU: Unpublished material.

Guimarães, M (2005) An Assessment of Understanding Universal Design Through Online Visual Resources and Role-playing Simulation Exercises. PhD Thesis, Advisor: R. Moore. Raleigh, NC: NCSU

--------    (1991) Fundamentos do Barrier-free Design, Edição Especial para o I Premio Nacional de Design, Pesquisa e Planejamento Urbano para a Pessoa Portadora de Deficiência. Belo Horizonte: IAB-MG.

Mace, R. (1985), Universal Design, Barrier-free Environments for Everyone. Los Angeles, CA: Designers West. 

Mace, R., Hardie, G. & Place. J. (1991), “Accessible Environments Toward Universal Design” in Design Intervention: Toward a more Human Architecture. New York: Van Hostrand Reinhold, pp 155-176.

Story, M. (2000), “Principles of Universal Design.” In Universal Design Handbook, edited by E. Ostroff and W. Preiser. New York: McGraw-Hill. 10.3-10.19.

Welch, P. (ed.) (1995), Strategies for Teaching Universal Design. Adaptive Environments Center: Boston, and MIG Communications:  Berkeley, CA

Marcelo Pinto Guimarães,

Apresentado no V Seminário do Departamento de Projetos,
Ouro Preto - MG, dezembro 2005

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